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Jornalista David Coimbra morre em Porto Alegre

Aos 60 anos, ele lutava contra um câncer há pelo menos dez anos
27/05/2022
Correio do Povo / Zero Hora -Foto: reprodução

     O apresentador, escritor e colunista David Coimbra morreu nesta sexta-feira aos 60 anos em Porto Alegre. O jornalista, que estava afastado dos trabalhos na RBS, lutava contra um câncer há pelo menos dez anos. Ele estava internado no Hospital Moinhos de Vento em tratamento e a situação se agravou. Coimbra graduou-se como jornalista na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Enquanto estava na faculdade, trabalhou como assessor de imprensa da Livraria e Editora Sulina, onde redigia resenhas de livros, entrevista autores e acompanhava escritores em visitas no Rio Grande do Sul.

     Passou por mais de 10 redações no Sul do Brasil, entre elas: Correio do Povo, Diário Catarinense, Jornal da Manhã (Criciúma), Jornal NH, Jornal de Santa Catarina, Rádio Eldorado (SC), Rádio Guaíba e RCE TV (SC). É autor dos romances "Canibais - paixão e morte na Rua do Arvoredo" (2004) e "Jô na estrada" (2010), dos livros de ensaios históricos "Jogo de damas" (2007) e "Uma história do mundo" (2012), das coletâneas de crônicas "Mulheres!" (2005) e "Um trem para a Suíça" (2011), entre outros. A última obra é o livro "Hoje eu venci o câncer" (2018), em que David relata como descobriu a doença e quais métodos o ajudaram no tratamento.

     Em nota nas redes sociais, tanto Inter quanto Grêmio se manifestaram sobre a morte do jornalista. "Um profissional que soube expressar com maestria sua paixão pelo futebol e pela cultura", disse o Inter. "Um dos grandes da Comunicação gaúcha, atuou em diversos veículos de expressão. Informou, opinou, apresentou, e sempre cativou", disse o Tricolor.

     Um dos mais celebrados jornalistas do Rio Grande do Sul, que soube combinar em crônicas antológicas e na vida cotidiana a paixão pelo futebol e pela cultura, pelos amigos e pela boa polêmica sem jamais deixar de lado o bom-humor, David Coimbra, o jornalista do Grupo RBS começou a enfrentar problemas de saúde em 2013 ao ser diagnosticado com um tumor em estágio avançado no rim esquerdo. Após sentir dores no peito, descobriu ainda que a doença já havia se espalhado silenciosamente por meio de metástases ósseas para outras três partes do corpo. Depois de uma cirurgia para extirpar o órgão e de tentar tratamentos que não surtiram o efeito desejado no Brasil, rumou para os Estados Unidos com o objetivo de dar sequência à luta contra a doença.

     Em seu exílio temporário, desde Boston, seguiu escrevendo textos para o jornal Zero Hora e GZH e participando de programas na Rádio Gaúcha, como o então recém-lançado Timeline, sem jamais abandonar o estilo ao mesmo tempo leve e contundente. Nos EUA, David conseguiu tomar parte em um estudo clínico inovador que testava a aplicação de imunoterapia – o paciente recebe uma droga que ativa o sistema imunológico com o objetivo de combater o câncer. A resposta de seu organismo foi considerada excelente, o que ajudou a compor as 208 páginas do livro Hoje Eu Venci o Câncer, publicado pela L&PM em 2018.

     David decidiu escrever uma obra em tom confessional logo depois de receber a notícia do médico, ainda no Brasil, de que poderia ter poucos meses de vida. Naquele exato momento, resolveu colocar no papel todo seu sofrimento, mas principalmente sua esperança, para que o filho Bernardo – outro de seus grandes amores, hoje com 14 anos, além da mulher, Márcia – pudesse conhecer em detalhes a alma do pai que até os 50 anos se considerava uma "fortaleza física", e que, depois do diagnóstico, como relatou nas páginas do livro, passou a considerar que a felicidade é "um dia bem vivido, sem dores físicas importantes, em que você agiu com correção e que termina em paz". Um de seus traços mais marcantes era justamente a paixão pela escrita, fosse a sua, moldada com frases tão elegantes quanto espirituosas, ou aquela produzida por outros autores que abarcavam desde os antigos gregos aos modernos clássicos noir de nomes como Raymond Chandler ou Dashiell Hammett.

     Dizia que gostava de ler e escrever antes mesmo de aprender a ler e escrever por conta da influência de pessoas próximas como a mãe, Diva, e o avô, Walter, de quem puxou o gosto por contar histórias "de futebol, de guerra e de política", como lembrava o neto. Graças a essa herança familiar, David deixou vasta contribuição para enriquecer a biblioteca dos amantes da literatura com uma produção prolífica e variada, de coletâneas de crônicas e contos a romances. Por vezes, como o grande repórter que foi em áreas como geral e política, mergulhou fundo em períodos célebres da história gaúcha a exemplo da morte do então deputado estadual José Antônio Daudt, ocorrida em 1988. Na obra, reconstrói momentos da vida do também ex-deputado estadual Antônio Dexheimer, considerado à época suspeito de ter participado do assassinato.






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