Vereadores do MDB não comparecem à audiência pública contra os pedágios
Enquanto representantes de diversas cidades da Serra Gaúcha e lideranças políticas regionais se reuniam para debater os impactos da ampliação das praças de pedágio no Rio Grande do Sul, dois vereadores de Garibaldi optaram por não participar da audiência pública realizada nesta quarta-feira (25) a noite, na Câmara de Garibaldi. Douglas Cettolin e Luana Meneguetti, ambos do MDB não estiveram presentes.
O encontro, que ocorreu em um dos momentos mais críticos da discussão sobre o modelo de concessões rodoviárias no estado, teve como foco a rejeição à proposta do governo Eduardo Leite (PSDB) de instalar novas praças de pedágio — com distâncias médias de apenas 20 km entre elas. A audiência pública contou com a presença de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e representantes da sociedade civil de toda a região, com forte posicionamento contrário ao modelo que vem sendo defendido pelo Palácio Piratini e pela Secretaria Estadual de Transportes.
A ausência dos dois parlamentares chamou a atenção especialmente porque todos os demais vereadores de Garibaldi estiveram presentes, inclusive Arnaldo Seganfredo (MDB), demonstrando alinhamento com o sentimento de boa parte da população da Serra, que teme o impacto econômico e social da medida.
A ausência do vereador Douglas Cettolin na audiência gerou ainda mais polêmica por conta de suas declarações recentes no plenário da Câmara de Vereadores. Em uma das sessões, o parlamentar chegou a acusar o prefeito de Garibaldi, Sérgio Chesini (PP), de apoiar o novo modelo de pedágios — o que foi negado publicamente pela gestão municipal. A acusação gerou reação nos bastidores, já que Chesini tem se posicionado contrário à proposta do Estado e defendido maior diálogo com as comunidades diretamente afetadas.
“É uma postura no mínimo incoerente: primeiro ataca injustamente o prefeito por suposto apoio aos pedágios, e depois sequer comparece a uma audiência pública que tratava justamente desse tema tão sensível para a população”, avaliou o vereador da base governista Gilberto Perin (PP) que participou do encontro.
Outro fator que pesa na avaliação política da ausência dos dois parlamentares é a relação de membros do MDB local com o atual secretário estadual de Transportes, Juvir Costella, um dos principais defensores do modelo de concessões que prevê uma praça de pedágio a cada 20 km no Rio Grande do Sul. Costella, aliado direto do governador Eduardo Leite, vem sendo apontado como um dos articuladores do novo mapa rodoviário, que tem sido amplamente criticado por prefeitos e vereadores da Serra. O irmão do vereador Douglas, Diego Cettolin, trabalha na secretaria de Costella com o cargo de Diretor do Departamento Ferroviário, recebendo um salário de quase R$ 15 mil reais mensais.
A ligação política entre os vereadores Douglas e Luana com o secretário é de conhecimento público, o que levanta questionamentos sobre um possível alinhamento com os interesses do governo estadual, em detrimento do posicionamento da comunidade local. A ausência dos dois vereadores em um debate de tamanha relevância regional foi lamentada por lideranças que participaram da audiência. Para muitos, ficou evidente que o momento exige mais do que discursos de plenário: exige presença, posicionamento e compromisso com os interesses da comunidade.
“Garibaldi esteve representada por quase todos os seus vereadores, por membros do Executivo, por lideranças comunitárias. Lamentamos que alguns tenham optado por se omitir num momento em que a população espera coragem para enfrentar decisões que impactarão diretamente a mobilidade e a economia da região”, afirmou um dos organizadores da audiência.
Entenda o que é o Bloco 2 das concessões de pedágios proposto pelo governo Eduardo Leite
O Bloco 2 do projeto de concessão de rodovias estaduais, proposto pelo governo Eduardo Leite (PSDB), integra um conjunto de medidas para transferir à iniciativa privada a gestão e manutenção de trechos importantes das estradas do Rio Grande do Sul. O plano, elaborado pela Secretaria Estadual de Transportes, prevê a instalação de novas praças de pedágio em diversas regiões do estado, incluindo a Serra Gaúcha, com distâncias médias entre elas que podem chegar a apenas 20 quilômetros. Entre Garibaldi e Boa Vista do Sul possivelmente terá dois pedágios, o já existente em boa vista do sul e um novo em Santo Antônio de Castro.
O governo justifica a proposta afirmando que a concessão permitirá investimentos privados em infraestrutura, duplicações, melhorias e manutenção de estradas, com prazos de execução mais curtos e sem necessidade de aporte direto do Estado. No entanto, o modelo apresentado tem enfrentado forte resistência de prefeitos, vereadores, entidades empresariais e movimentos sociais, que argumentam que o formato escolhido onerará excessivamente os usuários e prejudicará o desenvolvimento econômico das regiões afetadas.
O Bloco 2 engloba mais de mil quilômetros de rodovias estaduais, abrangendo municípios importantes da Serra, do Vale do Caí e do Vale do Taquari. Críticos da proposta apontam que o modelo beneficia grandes empresas concessionárias, enquanto repassa à população e aos pequenos empresários um custo elevado, especialmente para quem depende das rodovias para trabalhar, estudar ou escoar produção.