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Quase 30 anos depois, vinícolas vivem drama parecido com a da Escola Base

Grande Mídia sedenta por audiência, juízes da internet e políticos inescrupulosos denegriram toda uma cadeia produtiva
19/03/2023
Por Daniel Carniel

     Em março de 1994, o Brasil assistiu pela mídia, principalmente pela televisão, um dos maiores casos de injustiça já ocorrido no país. Os proprietários da escola particular Base, que funcionava no bairro da Aclimação em São Paulo, foram acusados pela imprensa de abuso sexual contra alguns alunos de quatro anos da escola. 

     Além dos proprietários, o casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, a professora Paula Milhim Alvarenga e o seu esposo e motorista Maurício Monteiro de Alvarenga também foram injustamente acusados. Com a exposição massiva do caso, a opinião pública se voltou contra eles, e a revolta da população fez com que a escola fechasse as portas. 

     Com o passar do tempo, foi concluído que as acusações não eram verdadeiras e não existiam provas do possível crime. A cobertura parcial por parte da imprensa e a conduta precipitada e muito questionada por parte do delegado de polícia que adorava aparecer na TV, fez o Ministério Público arquivar o caso.

     Porém, a calúnia, a difamação, e a injúria cometida pela imprensa e pela própria polícia ainda aguardam julgamento, e isso, a grande mídia “esqueceu”. A proprietária da escola morreu de câncer em 2007, logo depois, seu esposo faleceu de infarto. A professora e o marido sofrem de várias doenças como: estresse, fobia e cardiopatia. 

     O governo de São Paulo deveria ter pago uma indenização aos lesados e a Rede Globo R$ 1,35 milhão aos donos, e o motorista, porém, entrou com recurso e até hoje, nunca pagou.

As Vinícolas

     Em Operação realizada no dia 22 de fevereiro de 2023 em Bento Gonçalves, a Polícia Federal localizou cerca de 200 trabalhadores em um alojamento da empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA.  Conforme a polícia, os trabalhadores que estavam ali, eram submetidos a viver em condições precárias, violência física e ficavam sem receber seus salários.

     Esta empresa fornecia mão de obra para as Vinícolas Salton, Cooperativa Garibaldi e Cooperativa Aurora. E o que os dois casos tem em comum?

     Quando contratamos uma diarista para limpar nossa casa, sabemos em que condições ela vive? 

Podemos ser acusados de cometer algum crime apenas por ter dado trabalho a ela? 

Pela justiça entender que as empresas são solidárias, um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta foi firmado, e juntas,as vinícolas pagaram R$ 7 milhões a título de danos morais e coletivos aos trabalhadores. 

     Já a empresa que os contratou e supostamente os maltratava, não pagou um centavo até agora, pois entende que não empregava em situação análoga a escravidão. 

     Quem mais perdeu com tudo isso? As vinícolas chegavam a pagar mais de R$ 6 mil por cada trabalhador contratado, já quem os contratou pouco mais de R$ 1 mil, quando pagava. 

    A imprensa, assim como no caso da Escola Base, ficou semanas “batendo no caso”, sendo que um órgão de imprensa do RS (queridinho das próprias vinícolas) em um único dia, publicou sete reportagens sobre o tema.

     Na internet, os julgadores de plantão também condenaram as vinícolas. Muitos dos que escreviam asneiras, não conhecem de perto um simples cacho de uva, e muito menos, andou por debaixo de uma parreira.  Sendo assim, desconhecem totalmente o setor que pena devido à alta carga tributária e a falta de incentivo dos governos. 

     O governador, que só pensa em ser candidato a presidente do Brasil, tratou de dar ainda mais repercussão ao caso, e de uma maneira ágil, criou um grupo de trabalho para “fiscalizar o trabalho escravo na Serra”. Este mesmo governador,  nunca fez nada de parecido para “auxiliar” os agricultores da Serra Gaúcha. 

     O ponto mais alto da promoção pessoal do governador, foi pedir desculpas ao cantor Gilberto Gil. Gilberto Gil? Se ele realmente tivesse preocupado, deveria pedir desculpas aos trabalhadores, mas os pobres baianos, que supostamente foram escravizados, não dão tanta audiência quanto o famoso cantor.

     Invasores de terras, ligados a partido político famoso pela corrupção, foram até o escritório da Salton em são Paulo e depredaram a fachada. Isso, sem contar com a proliferação de mentiras e boatos criados na internet. “Não compre produtos da serra. Não façam turismo na serra”, diziam alguns.

     E agora? 

    Que a própria polícia diz que as vinícolas não possuem nenhuma ligação com o trabalho escravo. Como ficam  aqueles que mancharam a imagem não só das empresas, mas de toda uma cadeia produtiva da uva e vinho? 

     Esta cadeia produtiva que gera muito imposto foi condenada sem culpa. Restaurantes e atrativos turísticos perderam clientes, agricultores foram ofendidos e toda uma classe atirada na vala comum. 

     Ao invés de beber suco de uva, vinho ou espumante, estes deveriam era tomar algum produto químico para limpar as mentes podres,  e desencardir o mau caratismo impregnado no corpo e na língua. 




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Daniel Carniel

Daniel Carniel

Natural de Garibaldi, Daniel Carniel é formado em Jornalismo pela Universidade de Passo Fundo, e tem experiência em Rádio, TV, Jornal, e Assessoria de Imprensa. Iniciou a carreira na Rádio Planalto AM de Passo Fundo e atuou no Jornal Novo Tempo de Garibaldi, TV Record, e nas rádios Guaíba e Gaúcha de Porto Alegre. Acadêmico de Direito na Escola Superior do Ministério Público integrou a assessoria de imprensa do vice-governador do Rio Grande do Sul entre 2011 e 2014. Atualmente é sócio proprietário da Diffusione Comunicação,empresa que tem sede em Garibaldi RS
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