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Polícia Federal faz busca e apreensão na casa da Secretária Estadual da Saúde

Arita Bergmann teve celular apreendido em operação que apura irregularidades em licitações
19/12/2022
Com informações do jornal Zero Hora - Foto: Polícia Federal / Divulgação - Foto secretária: Jornal do Comércio
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     A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, está entre os investigados pela Polícia Federal (PF) na Operação Septicemia, deflagrada há 12 dias. A informação foi apurada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI). A PF fez buscas na casa e no gabinete de Arita, que também teve o telefone celular apreendido. Arita assumiu o comando da Saúde estadual em 2019 e é cotada para permanecer no cargo no segundo governo de Eduardo Leite. Os fatos investigados em relação a ela teriam ocorrido antes de 2019.

     Ela se tornou alvo da investigação federal a partir da análise de materiais apreendidos em outra operação da PF, a Autoclave, realizada em 2019, que focava em supostas irregularidades na prestação de serviços pela Organização da Sociedade Civil (OS) IBSaúde na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Scharlau, de São Leopoldo.

     Mensagens armazenadas no telefone do principal investigado na Autoclave, José Eri Osório de Medeiros, presidente do IBSaúde, fizeram a PF suspeitar de que Arita teria participado de esquema de montagem de licitação em parceria com a OS quando ocupava o cargo de secretária da Saúde de São Lourenço do Sul, em 2017. Medeiros foi um dos quatro presos na operação da quarta-feira (7), já que também segue investigado na Septicemia. Com as apreensões feitas em 2019, a investigação da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), apurou supostas fraudes que teriam ocorrido em anos anteriores. Agora, com a Septicemia, o objetivo é, além de complementar a apuração da Autoclave, verificar as articulações da OS com agentes e órgãos públicos a partir de 2019.

     Conforme a Controladoria-Geral da União, o IBSaúde recebeu, entre 2019 e 2022, cerca de R$ 250 milhões dos municípios que estão sob investigação. O problema, segundo investigadores, não é a quantidade de contratos com prefeituras, mas a forma como os negócios seriam feitos. A PF não fala de detalhes da investigação, mas diálogos aos quais o GDI teve acesso mostraram que a OS funcionaria como uma "consultoria" para secretarias de saúde, assumindo o papel de propor os termos de editais e das licitações para os órgãos públicos. Desta forma, quando os chamamentos eram publicados, o IBSaúde estava sempre apto a concorrer e ganhar, se quisesse.

    No caso que envolveria Arita, que é de 2017, uma curiosidade: a OS teria ajudado a montar a licitação em São Lourenço, terra natal da secretária, mas acabou não concorrendo à época porque teria considerado os valores muito baixos, conforme a investigação. Antes do lançamento do processo seletivo de São Lourenço do Sul, em uma conversa que teria ocorrido em 25 de novembro de 2017, Medeiros e Arita falam sobre o que seria contratado pela prefeitura.

    O IBSaúde acabou contratado pela secretaria de São Lourenço do Sul depois da saída de Arita. A OS também fez contrato na Saúde em Pelotas onde, inclusive, um filho de Arita atuou como coordenador de serviços da UPA Areal. Para os investigadores, a contratação de um parente de Arita pelo IBSaúde em Pelotas, justamente depois de o presidente da organização social pedir a ela ajuda para contato com a secretária de Saúde daquele município, reforça a relação de proximidade entre Arita e a organização.  


A Operação Septicemia

Apura os crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, fraude em licitação, fraude em prorrogação e aditivos de contratos, advocacia administrativa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, entre outros.

A maior parte das ordens de busca foi cumprida em Porto Alegre (18) e São Leopoldo (12). Também há ações em Canoas (5), Rio Grande (3), Dois Irmãos (2), Nova Prata (2), São José do Norte (2), São Lourenço do Sul (2), Caxias do Sul (1), Esteio (1), Piratini (1), Sapucaia do Sul (1) e em Brasília, no Distrito Federal (2).

Também houve ordens judiciais para bloqueio de bens e de valores em contas bancárias dos investigados.

Segundo a PF, a instituição investigada se denominava "sem fins lucrativos" para que fosse beneficiada em licitações, mas previa lucro em seus orçamentos e pagava comissões para intermediários, que eram contratados como consultores.

As fraudes nos processos licitatórios aconteceriam por meio de concorrências simuladas e com a orientação a partir do fornecimento de minutas de editais, contratos e termos de referência dos certames. Também foram constatados indícios de pagamentos indevidos a agentes públicos por parte da organização.

Contraponto

O que disse a secretária Arita Bergmann, por meio de nota:

"A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, assim que tomou ciência dos fatos, comunicou ao governador. Arita registrou à Polícia Federal o seu compromisso com a responsabilidade, probidade da gestão com a saúde do Rio Grande do Sul e com a transparência de todos os atos realizados no âmbito da Secretaria Estadual da Saúde, assim como ofertou, desde já, sua disponibilidade para levantamento de quaisquer dados sob sigilo, inclusive bancários e telemáticos. Cabe ressaltar, ainda, que, levando em conta o que já é de conhecimento público quanto ao teor da investigação até o momento, a operação visa apurar contratos firmados com prefeituras, não havendo qualquer relação com a gestão de saúde estadual. Mais uma vez, a secretária se coloca à disposição da sociedade para qualquer esclarecimento."


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