Polícia

PM suspeito de acobertar trabalho análogo à escravidão é afastado

Soldado seria um dos seguranças contratados que comandava o espancamento de safristas
13/03/2023
Jornal Zero Hora - Foto: Ilustração

     A Brigada Militar afastou do serviço um PM suspeito de acobertar trabalho análogo à escravidão, em Bento Gonçalves. Ele foi identificado por trabalhadores como chefe da segurança na pousada de onde 207 safristas da colheita da uva foram resgatados a cerca de 15 dias atrás.

     Informações publicadas pelo jornal Zero Hora, afirmam que o homem que comandava os espancamentos, segundo depoimento de alguns safristas, era conhecido por eles como "Scorcese" ou "Escocês". A investigação interna da BM identificou o suspeito como sendo o soldado Márcio Squarcieri, 39 anos, que atua no 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (Bpat), em Bento Gonçalves. Ele ingressou na BM em 2009 e inclusive foi homenageado por serviços prestados à comunidade, em 2021. O PM é investigado por tortura e por, supostamente, atuar como segurança privado para a pousada e para a empresa que contratou os safristas. Tanto o dono da empresa como o do alojamento são investigados pela Polícia Federal, por manter trabalho análogo à escravidão.

     O policial militar foi afastado do patrulhamento nas ruas e colocado em serviço interno. Há possibilidade de que seja, nos próximos dias, agregado - termo que significa ficar afastado de toda e qualquer atividade militar até o fim do Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela Corregedoria-Geral da BM. A Brigada Militar investiga outros policiais que seriam convocados por Squarcieri para reprimir os safristas da uva, quando ele achava necessário - mesmo quando estavam de serviço. Não há prazo para conclusão do inquérito, nem para o tempo de prisão preventiva determinado ao soldado.

     Mais de 70 servidores da BM averiguam se houve aliciamento de policiais militares por parte de empresários da Serra. Eles buscam indícios e tomam depoimentos de civis e militares (esses últimos, vinculados ao 3º Bpat). Dezenas já foram ouvidos. A Brigada Militar chegou a pedir a prisão preventiva do PM Squarcieri, à 1ª Auditoria da Justiça Militar (que fica em Porto Alegre). Mas o juiz que atua no caso, Francisco José de Moura Müller, decidiu declinar da competência para apreciar o pedido. Ele considera que o possível envolvimento do soldado com trabalho análogo à escravidão é delito que deve ser analisado pela Justiça Federal.

     É provável que a Polícia Federal também passe a investigar o soldado, em relação a esse delito. Em paralelo, a BM pretende continuar o seu inquérito, para verificar crimes como tortura e como ficará a situação funcional do policial. Ele corre risco de expulsão, caso seja comprovado o delito. Em depoimento no Inquérito Policial Militar (IPM), o policial se reservou ao direito de se manter em silêncio. 

     O Jornal Zero Hora procurou pelo advogado do PM, mas o advogado Maurício Custódio está contrariado com o afastamento do policial do serviço. Considera isso um "pré-julgamento, precipitado", do PM, que inclusive tem condecorações na ficha funcional. Custódio também ressalta que não teve acesso aos autos, sequer aos depoimentos dos safristas que acusam seu cliente de tortura.



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