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Vítimas da enchente em Muçum foram veladas coletivamente

Sem estrutura na cidade, velório foi realizado no município vizinho de Vespasiano Corrêa
10/09/2023
Correio do Povo

     Em uma manhã fria, chuvosa e nublada no Vale do Taquari, moradores, amigos e familiares se despediram das vítimas das enchentes na manhã deste sábado (9). A cerimônia, reservada, iniciou por volta das 7h no município vizinho, em Vespasiano Corrêa. Das 10 pessoas que seriam veladas no Ginásio Municipal, apenas nove foram.  O corpo de Leandro Menegildo, 43 anos, foi velado no Cemitério Santo Antônio, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Leandro estava em Muçum para consertar o telhado de sua mãe que foi atingido pelos granizos da última semana. O rapaz decidiu voltar ao município para ajudar seus conterrâneos. Leandro foi levado pela enxurrada e morreu.

     Em uma breve conversa à imprensa, o prefeito de Muçum, Matheus Trajan, se diz abalado não só com a situação do município, como também o momento do luto das famílias da região. “Esse momento (velório) é o pior, o momento da despedida coletiva. Isso é irrecuperável. A dor, o luto, o drama dessas famílias com esse luto eterno. São muitos amigos que eu tinha e pessoas próximas que a gente se despede”, relata. Em relação aos trabalhos no município, o prefeito destaca que Muçum se tornou um cenário de guerra, mas que o comitê de crise da cidade com o apoio do Governo do Estado está realizando os trabalhos para amparar as famílias e reestruturar a cidade. 

      O prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelan, disse que o município segue dando apoio e solidariedade a Muçum. “Esse é um trabalho que o Mateus (prefeito) pode contar não só comigo, como também todos os municípios da região. A meta é trazer de volta a esperança a essas pessoas”, destaca. 

      A Rede de Apoio Psicossocial (RAP) esteve presente no velório prestando solidariedade e apoio às famílias. A psicóloga especialista em emergências de desastres, Melissa Couto, coordena as equipes que prestam assistência às famílias. “Estamos conseguindo estender todo o cuidado dessas vítimas no Vale do Taquari até Porto Alegre [já que famílias seguem na Capital para realizar o reconhecimento dos corpos encontrados]”, diz. A psicóloga destaca que a Rede de Apoio tem buscado ofertar um apoio com todas as famílias. O psicólogo Marcelo Perpétuo, um dos fundadores da Rede de Apoio, destaca também que o suporte psicológico é necessário às famílias das vítimas. “O luto é um processo. Enquanto psicólogos, estamos aqui para estar ao lado dessas famílias, deixar que eles expressem sua dor, memórias, sua despedida aos entes queridos, e estamos aqui para esse acolhimento”.   

     O sepultamento dos corpos das vítimas aconteceu em regiões do Vale do Taquari. Joeci Felicetti foi sepultado no Cemitério Católico Nossa Senhora Aparecida de Roca Sales; Sebastião Nunes de Oliveira e Jenecilde de Freitas, sepultados no Cemitério São Judas Tadeu, em Roca Sales; o pai e filho Danilo Lourenzi e Wagner Lourenzi foram sepultados no Cemitério Municipal de Anta Gorda; Zilda Bonatto de Amaral foi  sepultada no Cemitério Santo Antão, em Encantado; além do casal Alavaro Pietta, e Beatriz Pietta e o filho, Maximiliani Pietta que foram sepultados no Cemitério Municipal de Muçum.

     Foi preciso abrir três espaços no Cemitério Municipal de Muçum que estava prejudicado para velar os corpos das três pessoas da mesma família. Alavaro Pietta, 74 anos, Beatriz Pietta, 72 anos e do filho, Maximiliani Pietta, 46 anos morreram dentro de casa na enchente. O sepultamento ocorreu de forma reservada e gerou comoção de todos da família presentes. 

     O cenário era de muita tristeza no local. Os túmulos que foram engolidos pela água do rio. Lápides, portas e janelas quebradas e o chão coberto de barro e água. O túmulo no qual a família foi sepultada estava coberta por barro. Os caixões dos familiares foram colocados nas gavetas de forma simbólica. O pai, na base, na gaveta de baixo, o filho, na gaveta do meio e a mãe em cima, como sinal de proteção ao filho. O casal era conhecido na cidade e se dedicavam com amor ao plantio. No município de Muçum, cerca de 16 mortes já foram confirmadas pela Defesa Civil, segundo um novo balanço atualizado no dia 9 de setembro, às 18h. Ao todo, cerca de 42 pessoas já morreram na enchente que devastou a região do Vale do Taquari. 

     O boletim ressalta que o número de desaparecidos está em 46. A maior parte de pessoas que ainda precisam ser encontradas está em Muçum (30), e também há registros em Lajeado (8) e Arroio do Meio (8).  



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