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Pedágios da Serra cobrarão mais caro do que esperado

Presidente da CIC Serra explica os motivos do desapontamento com novo modelo
15/07/2022 Em Bento Gonçalves
Portal Adesso - Foto: Diego da Rosa/ GES

      A concessão de rodovias estaduais é um assunto que já vem sendo debatido há anos. No que está relacionado à Serra Gaúcha, a ideia saiu do papel e será executada. No entanto, o projeto não sairá exatamente como os envolvidos almejavam. 

     Em abril o Governo do Estado confirmou que o Consórcio Integrasul será o responsável por administrar seis rodovias em trechos do Vale do Caí e da região da Serra. Cerca de 120 km, incluídos no bloco 3 do leilão de concessões estaduais, receberão a duplicação de suas pistas e outras melhorias viárias. 

     Segundo o presidente da Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICS-Serra), Elton Gialdi, que esteve acompanhando todo o processo, as tratativas começaram há cerca de três anos. “Nos conscientizamos que o Estado não nos daria as rodovias que nós tanto precisamos e esperamos aqui na Serra Gaúcha. A nossa região, extremamente industrializada, com um potencial turístico formidável, pujante e desenvolvida, conta com estradas medíocres, com rodovias que nos ligam à capital ou ao centro do país muito abaixo da nossa expectativa e da nossa necessidade”, aponta. 

     Com esse pensamento, a entidade buscou apoiar a iniciativa, que inicialmente abrangia apenas a RS-122. “Propomos que eles deveriam olhar para a floresta e não apenas para uma árvore, incluindo todo o polo rodoviário da Serra. Seria necessário resolver as dificuldades da RS-453, que liga Garibaldi a Farroupilha e até hoje tem uma pista simples, com um fluxo de veículos enorme, e também a subida da Serra pela RS-446, que são 15 km péssimos entre São Vendelino e Carlos Barbosa”, ressalta. 

     Apesar de serem favoráveis ao projeto nos moldes iniciais, Gialdi ressalta que o desapontamento começou com a questão financeira. “Depois da espera pelas análises e estudos do Estado, nos apresentaram um projeto de concessão que trazia algo novo:  a inclusão de 13 km da BR-470. Além disso, eles propuseram um modelo inovador, onde as concessionárias que participassem do certame deveriam fazer o pagamento de uma outorga”, explica. 

     Conforme Gialdi, o modelo obteve uma rejeição por parte de todas as lideranças envolvidas. “A cobrança de outorga por uma rodovia que ainda deveria ser melhorada e ter todos os investimentos não era adequada, porque, ao nosso ver, só pode ocorrer quando se entrega um produto pronto, uma rodovia já com investimentos recebidos”, destaca. 

     Segundo o Presidente, havendo a reprovação desse modelo, inclusive com diversas audiências públicas com unanimidade contrária, o Governo mudou o nome de outorga para contaporte, que exigia mais uma série de garantias. “No nosso entendimento isso acabou afugentando o interesse das concessionárias tradicionais de participarem do leilão, ficando somente uma empresa interessada. Como única no certame, o Consórcio acabou dando o desconto de apenas 1,3% de deságio”, explana. 

     Ainda de acordo com Gialdi, com esse desconto, o valor da tarifa do pedágio da Serra que estava calculado para ficar na faixa dos R$0,10 por km/rodado acabou ficando 59% mais caro do que em outras regiões, fechando em R$0,17 por km. 

     Ele cita como exemplo a concessão da RS-287 que liga Canoas a Santa Maria. “Nesse leilão o deságio proposto naquele período foi 52%, ou seja, a expectativa que tínhamos na nossa região era de aproximadamente 45%. Com isso, teríamos um pedágio de R$0,12 por km rodado, um pouco acima dos demais”, exemplifica.  

     O Presidente também cita o processo técnico das obras, que deixou muito a desejar. “Foi nos apresentado um plano de investimento muito medíocre. A única coisa que estava incluída era a tão sonhada duplicação das rodovias, mas nada além disso. Viadutos e passagens de desnível, que trazem fluidez, segurança e mobilidade, não estavam contemplados”, aponta. 

     Com isso, os prefeitos das regiões se reuniram e, através de seus técnicos, apontaram melhorias no projeto. “Mesmo sendo feitas sugestões, algumas mudanças importantes ficaram de fora, como um viaduto na entrada do bairro Tamandaré, em Garibaldi, e um viaduto bem mais amplo no entroncamento da RS- 453 e RS- 122”, salienta. 

     Em sua conclusão, Gialdi ressalta que a proposta, no geral, é inadequada. “Nossa posição foi vencida. Fomos voto contrário a esse modelo de concessão e batalhamos muito durante as reuniões com o Governo para fazermos essa melhoria no processo. Mesmo assim o leilão foi adiante e só está aguardando efetivamente a assinatura do contrato. Temos que reconhecer nossa derrota e nos manter vigilantes para que pelo menos as obras de duplicação e os investimentos em melhorias nas rodovias sejam implementados nos prazos estabelecidos em contrato”, salienta. 

     Após a assinatura, o pedágio será instalado em 12 meses. Em 36 meses as obras de duplicação e melhorias devem iniciar. Para finalização, o prazo limite é sete anos. 

     Valor dos pedágios da Serra

     Alguns pedágios já existentes, serão transferidos, como é o caso de Portão e Flores da Cunha. Porém, novas praças serão instaladas em locais que receberão as melhorias, como em Carlos Barbosa, Farroupilha, Ipê e Capela de Santana. 

     Os valores podem passar por ajustes ainda. Com a duplicação feita em alguns pontos, a tarifa pode ser elevada em 30% em relação a pista simples. 

     Preços estabelecidos:

     São Sebastião do Caí (km 4 da RS-122) - atualmente em Portão: R$ 9,83

     Flores da Cunha (existente no km 100 da RS-122, mas irá para o km 103): R$ 6,85

     Ipê (km 150 da RS-122): R$ 6,89

     Farroupilha (km 45 da RS-122): R$ 8,50

     Carlos Barbosa (km 6 da RS-446): R$ 7,85

     Capela de Santana (km 30 da RS-240): R$ 7,19


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